No dia 26 de agosto, tive o prazer de participar do 1° Simpósio sobre Saúde, Financiamento e Remuneração, organizado pelo Dr Guilherme Succi e equipe na SL Mandic.
Palestrantes brilhantes, como Fabio Gonçalves, Daniel Greca e Erickson Blun mencionaram a importância e os desafios da Saúde Baseada em Valor (VBHC: Value-Based Health care).
Nada mais apropriado, já que a cobertura universal da saúde e seu financiamento são temas globais caros ao Diretor-geral da OMS, Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus, que anunciou em 27 de junho, a nomeação do Professor Keizo Takemi como Embaixador da Boa Vontade da OMS para a cobertura universal de saúde.
O financiamento está no centro dos esforços para melhorar a saúde e os sistemas de saúde e foi pauta na Global Conference on Primary Health Care, realizada pela OMS em Astana, Cazaquistão. Concluiu-se que somente quando os recursos são mobilizados e gastos adequadamente, as pessoas podem usufruir de sistemas de saúde robustos em direção à cobertura universal de saúde de maneira sustentável.
Vivemos um período de transições sem precedentes e desafios novos exigem uma nova abordagem global para o financiamento da saúde. Essas transições incluem mudanças profundas na economia global, mudanças na saúde e fatores de risco para doenças e transformação do cenário institucional na arena global da saúde com enfraquecimento do papel da OMS e ascensão da influência de novos atores, incluindo o filantrocapitalismo.
Com relação ao financiamento doméstico dos sistemas nacionais (público e privado) de saúde, os desafios atuais do Brasil são comuns a muitos outros países e incluem:
Com a nova tendência global de abordagem da assistência médica baseada em valor em vez de volume, inúmeros desafios surgem na forma de definir o que, exatamente, “valor” significa para pacientes e para os sistemas de saúde em nível global.
De maneira bem sucinta, a saúde baseada em valor é quando todas as partes interessadas assumem a responsabilidade de melhorar os resultados do paciente em relação ao seu custo. E, embora seja simples em sua teoria, transformá-la em realidade é complexo e requer uma nova era de inovação e tomada de riscos para concretizá-la.
Para Porter e Teisberg, na obra intitulada “Redefining health care” (No Brasil, o livro Repensando a saúde), a causa raiz do insucesso dos sistemas de saúde é o modelo de competição com soma zero. Os autores propõem uma competição de soma positiva e saudável, baseada numa relação equilibrada de valores para o cliente.
O modelo VBHC busca a melhoria em eficiência e qualidade, considerando as condições de saúde do paciente e mensurando indicadores relevantes.
Para se implementar a saúde baseada em valor e consequentemente, a remuneração por performance (P4P), todos os stakeholders devem estar envolvidos:
Aqui a minha sugestão, baseada nos meus longos anos de prática médica na França, seria a promoção e o acesso pelos pacientes a informações sobre a performance das equipes.
Os desafios para a VBHC são inúmeros e envolvem aspectos culturais, éticos, legais e de gestão. Ao meu ver, o primeiro e grande passo seria: o engajamento da classe médica brasileira com a agenda de qualidade e a aceitação pelo médico em ter seu desempenho questionado por pacientes. Critérios baseados em evidência para avaliação de desempenho e a difusão pública dos próprios resultados, comum na França, Reino Unido, Holanda e EUA vieram para ficar.
Por isso, parabenizo a excelente iniciativa e o pioneirismo no meio acadêmico deste evento em Campinas!
Formada em Saúde Global e em Direitos Humanos em Genebra, abraça a causa da diversidade e da equidade de gênero.