Tive a alegria de conversar com meu amigo e colega do grupo de Saúde Mental nas Organizações do Einstein, A. Vandré Morada (EMS), sobre o impacto da ansiedade na qualidade do sono, em mais uma atividade de educação em saúde promovida pela Academia NC.
Um dos grandes desafios globais em saúde também está relacionado aos efeitos nocivos do estresse nos indivíduos, nas empresas e na comunidade. O estresse crônico predispõe as pessoas a um maior risco para ter síndrome inflamatória ou metabólica, caracterizada por aumento da pressão arterial, diabetes, ganho de peso e queda da imunidade. Há evidências comprovadas cientificamente que o estresse crônico pode ser um dos fatores envolvidos na gênese das doenças crônicas não transmissíveis.
Doenças mentais são responsáveis por 35% do gasto econômico global com doenças não-transmissíveis. Conforme estudo apresentado no World Economic Forum de 2020 na economia global estima-se um custo da ordem de US$ 1 trilhão por ano devido impactos causados por estes transtornos.
O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017. Dados recentes do do IBGE mostraram que a depressão atingia cerca de 9.6% da população brasileira antes de 2020 e no primeiro trimestre de 2022, chega a 13,5%. Segundo o relatório sobre Saúde Mental publicado pelo Comitê Científico da OMS em março de 2022, uma das principais explicações para esse aumento é o estresse sem precedentes causado pelo isolamento social decorrente da pandemia. Ha várias outras consequências estressoras, como: o medo de adoecer, a perda de empregos, preocupações financeiras, o luto, o aumento do consumo de álcool e lacunas no cuidado com maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde mental. Entre os profissionais de saúde, a exaustão continua sendo um importante gatilho.
O periódico científico The Lancet publicou em 2021, uma análise global da prevalência de transtornos mentais entre os meses de janeiro 2020 e de 2021, mostrando um aumento de 27,6% devido à pandemia covid-19, sendo as mulheres as mais afetadas tanto por ansiedade como por depressão, e a faixa da população mais jovem foi a mais afetada em relação aos idosos.
Os estudos que avaliam os efeitos da privação do sono indicam que o sono afeta o bem-estar emocional, a função cognitiva, o desempenho diurno e a saúde. O sono tem um efeito restaurador no sistema imunológico e no sistema endócrino, facilita a recuperação do SNC e do metabolismo, do estado de vigília e tem um papel integral na aprendizagem, memória e plasticidade neuronal.
Abordamos nesta entrevista os efeitos nocivos imediatos e a longo prazo da insônia, mas deixamos registradas inúmeras recomendações para se obter uma melhor qualidade do sono, incluindo medidas de higiene do sono e de estilo de vida, baseadas em estudos da neurociência e neuroimagem.
Discutimos sobre algumas opções terapêuticas, em especial sobre a eficácia, risco-benefício e a segurança do uso de fitoterápicos em pacientes idosos com outras doenças crônicas ou neurológicas associadas, com base em meta-análise publicada em 2020.
Os sistemas de saúde do Brasil e do mundo devem adotar cuidados multidisciplinares e inovadores em prevenção. Por isso, parabenizo a iniciativa e agradeço o convite da Academia NC que promove a educação em saúde e acredita na interdisciplinaridade proposta por M. Porter, como alicerce da saúde baseada em valor para o paciente.
Formada em Saúde Global e em Direitos Humanos em Genebra, abraça a causa da diversidade e da equidade de gênero.